O Secretário de Agricultura e Pesca de Santa Catarina, Altair Silva, está otimista com o atual momento por que passa a atividade agrícola no estado, que acaba de sair do inverno com o que chama de “novo modelo” que, segundo ele, já apresenta resultados: a produção de grãos no inverno, milho e soja, principalmente, para a atividade agropecuária, mas também para a indústria.
Conforme dados da pasta, o aumento da produção em Santa Catarina, principalmente dos cereais de inverno, teve um avanço da ordem de 79% em relação ao ano anterior. “O produtor se sente estimulado a plantar porque vê perspectiva de retorno econômico”, diz Altair Silva.
Mas o secretário também encara desafios na área. A crise hídrica é uma delas e para tanto comemora o sucesso do programa de reservação de água, que tem R$ 300 milhões destinados até 2023.
Nesta entrevista exclusiva, feita na última quarta-feira (21), Altair Silva falou sobre estes e outros temas de sua pasta. Confira:
O projeto de lei que viabiliza a internet por meio de fibra óptica para a zona rural avança na Alesc. O senhor está confiante na aprovação?
O projeto ainda não tramitou integralmente, foi aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e precisa passar na comissão de Finanças e Tributação antes de ir para o plenário da Assembleia Legislativa, mas estou confiante de que será aprovado. Este foi um projeto construído a quatro mãos dentro do governo em conjunto com a Celesc, que tem o maior número de postes no estado; e também com as cooperativas. O foco da proposta é promover a isenção da cobrança de preço, tarifa ou taxas pela utilização destes postes para fins de internet. Acreditamos que pela relevância e importância do tema, esse projeto será aprovado, sem maiores dificuldades.
Uma vez aprovado na Alesc, quanto tempo o senhor acha que este projeto possa ser colocado em prática, com a internet chegando de fato no campo. Em quanto tempo um pequeno agricultor terá em sua propriedade a internet com boa velocidade?
Os provedores de internet pagam aluguel na cidade, mesmo assim a internet está presente em praticamente todas as casas de nossas cidades. No interior, a fibra óptica não estava avançando pelo custo do aluguel dos postes. Com a liberação desse custo, como prevê o projeto de lei, a própria iniciativa privada vai avançar em alta velocidade para ocupar este espaço de mercado que tem no interior. É um interesse deles. E o poder público, através dos municípios, vai atender demandas pontuais, em alguns pontos específicos onde a iniciativa privada não irá. Nessa construção que citei anteriormente, é aí que entra o poder público. O Governo do Estado, através da Secretaria da Agricultura e Pesca, vai estabelecer convênios com as prefeituras para disponibilizar recursos para a complementação do serviço onde porventura a iniciativa privada não chegue.
“O produtor se sente estimulado a plantar porque vê perspectiva de retorno econômico e isso tem feito com que os programas da secretaria sejam abraçados e o reflexo disso é o aumento da produção em SC.”
Nós acabamos de sair do inverno quando houve um incentivo muito grande para a produção de grãos. Como o senhor avalia este movimento e de que forma Santa Catarina pode ser beneficiada com essa produção?
Estou muito otimista com o crescimento da área plantada e principalmente o engajamento do produtor. Estamos vivendo um momento em que os grãos estão muito valorizados, ou seja, o produtor se sente estimulado a plantar porque vê perspectiva de retorno econômico e isso tem feito com que os programas da Secretaria da Agricultura e Pesca e as iniciativas sejam abraçadas pelo produtor e o reflexo disso é o aumento da produção em Santa Catarina, principalmente dos cereais de inverno, que teve um avanço da ordem de 79%. Isso é muito importante porque está crescendo um novo modelo de desenvolvimento agrícola que é a produção de grãos no inverno para a atividade agropecuária, mas também para a atividade industrial. Nós vamos ter um crescimento significativo na área de soja, que vem crescendo muito positivamente pelos valores de mercado que tem atingido. Aliás, a soja e o milho têm sido os produtos em nível de commodities mais valorizados e como o Brasil tem esse potencial produtivo, e Santa Catarina também, nós estamos incentivando muito a atividade e com isso o crescimento da produção.
Há uma preocupação permanente em Santa Catarina com relação ao milho, muito importante na cadeia produtiva. Qual o cenário atual, sobretudo depois dessa produção de inverno?
A produção de cereais de inverno atua com duas perspectivas definidas: uma é produzir alternativa para a fabricação de ração para a pecuária catarinense e a outra é o trigo forrageiro que é usado para produzir silagem, a base de trigo, para a atividade da bovinocultura leiteira, para liberar a safra de verão para produzir mais grãos para as atividades das agroindústrias, uma vez que Santa Catarina importa muitos insumos de outros estados para a fabricação de ração. E é nessa direção que a gente tem trabalhado e os primeiros resultados a gente já tem sentido na safra de inverno, que, como disse anteriormente, aumentou em 79% em relação ao ano anterior.
A Secretaria da Agricultura e Pesca está realizando uma ação importante no Alto Vale do Rio do Peixe para atender os fruticultores que tiveram prejuízos com o granizo. Como está sendo realizado esse trabalho?
A região de Caçador, a região da Amarp (Associação dos Municípios do Alto Vale do Rio do Peixe), tem um histórico de chuvas de granizo e dentro desse histórico o estado vem investindo para mitigar os prejuízos dos fruticultores. Foram instalados 54 geradores para o lançamento de foguetes – falando assim de forma mais prática – que são disparados em direção às nuvens para evitar que caia o granizo nas lavouras. Então a Secretaria da Agricultura e Pesca está realizando convênios da ordem de R$ 1 milhão com os municípios da região da Amarp, que é a região mais atingida no estado em relação ao granizo. Este recurso já está reservado para esta ação este ano. E para o próximo ano já temos reservado mais de R$ 1 milhão para que essa região do Alto Vale do Rio do Peixe esteja protegida contra as chuvas de granizo. Este projeto foi aprovado pelo Cederural (Conselho de Desenvolvimento Rural) na última terça-feira (21).
Como funciona esse sistema antigranizo?
O modelo utilizado em Santa Catarina de sistema de controle do granizo utiliza informações de radar meteorológico, monitoramento com estações meteorológicas de superfície, com radiossonda e modelagem numérica, para detectar a possibilidade de formação de nuvens de granizo na região protegida. Uma vez confirmada a possibilidade de formação do granizo, o sistema de combate é acionado. Ele é composto de uma rede com geradores de solo que cobrem toda a área protegida e liberam partículas de iodeto de prata na atmosfera. Ao redor destas partículas, agregam-se partículas de água formando pequenas gotas de chuva ou pequenos cristais de gelo, que ao caírem reduzem de tamanho e atingem o solo na forma líquida ou de minúsculas pedras de gelo. Isso evita os danos e estragos nas cidades protegidas.
“O programa SC Mais Água teve uma demanda por parte dos produtores rurais tão grande que a primeira etapa do programa já se esgotou.”
O que o senhor pode falar sobre as ações que estão sendo feitas para minimizar os efeitos da estiagem provocada pela crise hídrica em Santa Catarina?
Nós criamos o SC Mais Água através do programa Pró Solo e Água onde este ano estamos investindo R$ 100 milhões e no próximo ano mais R$ 100 milhões e em 2023, mais R$ 100 milhões para que os produtores possam captar esses recursos via Epagri para investir em programas de reservação de água nas propriedades. Por incrível que pareça, esse programa foi lançado há dois meses e meio e a demanda por parte dos produtores rurais de Santa Catarina foi tão grande que a primeira etapa do programa já se esgotou. Agora estamos dialogando com o governo no sentido de viabilizar mais recursos para que o programa não pare, tamanha a aceitação dos nossos produtores.
Horas antes dessa entrevista o senhor estava numa audiência com o governador Carlos Moisés. Qual a novidade que o senhor pode nos contar?
Nós tratamos com o governador de um programa muito importante que é a Peste Suína Africana, que neste momento já há registros de ocorrências na República Dominicana e no Haiti. Então estamos realizando trabalhos sanitários para fazer de tudo para que a Peste Suína Africana não venha para o Brasil. Não é uma doença que prejudique a saúde humana,mas ela afeta demais o rebanho e consequentemente a economia. Esse é um trabalho que está sendo realizado em conjunto com o Ministério da Agricultura. Então essa reunião com o governador serviu para reforçar ainda mais esse trabalho que está sendo feito pelo poder público e pela iniciativa privada.